O salto alto, ícone do vestuário feminino moderno, carrega uma história bem menos glamourosa do que muitos imaginam. De uma simples necessidade militar à peça de poder, o salto teve um papel importante em diferentes momentos da história. E, se hoje ele é símbolo de feminilidade, nem sempre foi assim. Veja como esse calçado percorreu séculos e transformações para se tornar o que se conhece hoje.
Os primeiros saltos: um toque militar
Em meados do século 16, o salto alto não era, de fato, um acessório de moda, mas uma ferramenta de guerra. Os militares que lutavam na Ásia Ocidental utilizavam saltos para garantir equilíbrio enquanto cavalgavam. Esse conceito de utilidade e poder através dos sapatos militares se espalhou até a Europa, principalmente após o envio de emissários do xá da Pérsia, Abbas I, à região. O salto, inicialmente masculino, começou a se tornar parte da vestimenta dos nobres europeus, símbolo de status e autoridade.
O salto no mundo ocidental
A influência do salto alto se intensificou com a chegada de Luís XIV, o “Rei Sol” da França. Reza a história que, como ele era relativamente baixo, adotou o salto para parecer mais imponente. Mas não eram só os homens que usavam saltos. Na corte francesa, as mulheres também começaram a adotar o calçado, e o uso se espalhou rapidamente entre a nobreza.
Luís XIV, com seus famosos saltos vermelhos, acabou sendo o responsável por popularizar o salto alto em toda a Europa. E, ironicamente, o vermelho dos saltos franceses viria a inspirar o famoso designer Christian Louboutin séculos depois.
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A ascensão do salto como símbolo de poder feminino
Ainda no século 17, a rainha Elizabeth I foi uma das primeiras mulheres a adotar os saltos, mas com um propósito diferente do habitual. Ao usá-los, ela pretendia se masculinizar, reforçando sua autoridade como monarca em uma época dominada por homens. Essa estratégia de “adotar um poder visual” era parte de um esforço maior para transmitir controle sobre seu reinado.
A transformação no século 18
Com o tempo, o salto alto deixou de ser um acessório puramente masculino ou ligado à nobreza. Durante o século 18, à medida que as visões filosóficas sobre a mulher se transformavam, as mulheres começaram a adotar o salto como uma maneira de se destacar socialmente. Não mais como algo voltado ao poder político, mas como um símbolo de sensualidade e feminilidade.
Foi nessa época que os saltos começaram a ser vistos como um item “erótico”, especialmente depois da revolução fotográfica. Mulheres com saltos passaram a ser retratadas em imagens sensuais, um reflexo da transformação do salto em símbolo de desejo e atratividade.
O salto na era do cinema e da moda
O século 20 foi marcado pela consolidação do salto alto como item obrigatório no guarda-roupa feminino. Com o avanço da fotografia e o surgimento de ícones de estilo como Marilyn Monroe, o salto se tornou um símbolo de sensualidade e poder feminino.
Monroe, com sua famosa frase sobre a importância do salto, destacou a peça como essencial para a mulher moderna. “Eu não sei quem inventou o salto alto, mas todas as mulheres devem muito a esta pessoa”, disse a atriz, que popularizou ainda mais o uso do salto.
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O salto alto hoje: do estilo à prática
O salto alto, embora tenha evoluído ao longo dos séculos, ainda mantém em si uma forte conexão com poder, elegância e, em muitos casos, até com desafios físicos. Para muitas mulheres, ele é visto como uma maneira de se destacar, seja no ambiente de trabalho, em eventos sociais ou mesmo no cotidiano. Mas, também há quem argumente sobre o impacto do salto para a saúde, já que seu uso constante pode resultar em desconfortos e até lesões.
Ainda assim, ele continua sendo um ícone no mundo da moda. Do clássico stiletto aos saltos mais ousados, como os de plataformas e botas, o salto alto mantém sua força como símbolo de confiança e, quem sabe, um toque de rebeldia.
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Ao longo dos séculos, o salto alto transformou-se, mas a sua importância nunca desapareceu. De um calçado funcional usado em batalhas a um símbolo de status e sensualidade, o salto teve uma longa trajetória de adaptações. O que começa como uma necessidade prática, acaba se tornando um poderoso símbolo de identidade e até de resistência, muitas vezes desafiando os padrões de beleza e as convenções sociais.