A cada nova conquista profissional, muitas mulheres sentem um aperto no peito, como se algo ali não estivesse certo. Mesmo depois de um diploma, de promoções ou do reconhecimento, há quem insista em pensar: “isso não foi mérito meu”. Essa sensação tem nome e é mais comum do que parece. A chamada síndrome da impostora atinge milhares de mulheres e pode afetar diretamente o crescimento na carreira, interferindo na confiança, nas decisões e nas oportunidades aceitas — ou recusadas.
O que está por trás da síndrome da impostora?
Um sentimento que drena a confiança
A síndrome da impostora não tem relação com falta de talento ou preparo. Pelo contrário, ela costuma afetar quem já percorreu um bom caminho e colheu resultados. A pessoa se sente uma fraude, como se estivesse ocupando um espaço que não lhe pertence. Ainda que tenha alcançado seus objetivos com esforço, acredita que foi sorte, acaso ou que não será capaz de repetir o feito.
Segundo o Instituto de Psicologia da USP, esse padrão de pensamento é mais recorrente em mulheres. O impacto desse sentimento não se limita ao psicológico: ele interfere na performance, nas decisões e até nos relacionamentos profissionais. Algumas chegam a rejeitar promoções ou convites por acharem que não estão à altura.
Por que tantas mulheres passam por isso?
A estrutura social ainda cobra demais
Durante muito tempo, o mercado de trabalho foi desenhado por e para homens. Aos poucos, as mulheres foram ocupando novos espaços, mas nem sempre encontraram apoio ou referências. Quando se é a primeira — ou a única — mulher numa liderança, a pressão aumenta. A sensação de não pertencimento se torna mais intensa.
A pesquisa feita pela consultoria KPMG mostrou que 75% das mulheres se sentem menos confiantes no ambiente profissional por causa da síndrome. E mais da metade temem que seus colegas duvidem de suas competências. Esse cenário mostra como a insegurança não surge do nada: ela é alimentada por olhares desconfiados, comentários sutis e cobranças constantes.
Perfis comuns da síndrome da impostora
Tipos de comportamento mais frequentes
A pesquisadora Valerie Young identificou cinco perfis comportamentais que ajudam a entender como a síndrome aparece na prática:
- A expert: só se sente segura quando domina todos os detalhes e se cobra por não saber algo.
- A perfeccionista: coloca metas altas demais e se frustra com qualquer falha.
- A gênia nata: acredita que, se algo exige esforço, é porque não tem talento suficiente.
- A artista solo: evita pedir ajuda e prefere fazer tudo sozinha para provar competência.
- A invencível: tenta ser boa em todas as áreas da vida e se sente culpada ao falhar em alguma.
Reconhecer esses padrões pode ser o primeiro passo para começar a enfrentar o problema.
Não é sobre falta de qualificação
O problema não está na formação, e sim na percepção
Muitas mulheres acreditam que precisam estar mais preparadas do que os homens para serem reconhecidas. Uma pesquisa da InfoJobs apontou que 73% sentem essa cobrança. Mas a questão central nem sempre está na formação. O que pesa, muitas vezes, é a maneira como elas percebem a si mesmas.
Como enfrentar a síndrome da impostora?
Dicas para quem lida com esse sentimento e para quem lidera
Para lidar com a síndrome, o autoconhecimento é essencial. Reconhecer os pensamentos limitantes ajuda a interromper o ciclo da autossabotagem. Também é importante estar em ambientes que valorizam o trabalho feminino e oferecem segurança psicológica.
Lideranças têm um papel importante nisso. Algumas atitudes podem fazer diferença:
- Incentivar a colaboração e o senso de pertencimento;
- Criar espaços de escuta sem julgamento;
- Estimular a mentoria entre mulheres;
- Dar feedbacks construtivos e objetivos;
- Valorizar a contribuição de forma visível.
Ambientes que respeitam as diferenças e criam espaço para todas as vozes são menos propensos a alimentar esse tipo de insegurança.
Um olhar mais atento pode mudar tudo
A síndrome da impostora não é fraqueza, nem exagero. Ela é reflexo de um ambiente que historicamente ignorou a presença e o valor das mulheres. Mesmo com conquistas reais, muitas ainda duvidam de si por não terem visto outras parecidas ocupando o mesmo espaço. Mudar isso passa por apoiar, ouvir, orientar e criar condições para que mulheres se sintam parte — e não exceção. E você? Já teve essa sensação?